Quando se fala em câncer na região cabeça e pescoço, referimo-nos a uma ampla e complexa região do corpo humano que pode ser afetada tanto por tumores benignos, quanto malignos. Essas neoplasias podem estar presentes na boca, na orofaringe, na laringe (pregas vocais), nos seios maxilares e nasais, nas glândulas tireoide e paratireoide, nas glândulas salivares, nos tecidos moles do pescoço e na pele (face, couro cabeludo e pescoço). Nesse sentido, cabe nos perguntarmos, por que um mês dedicado a conscientização do Câncer de Cabeça e Pescoço no Brasil?
No país, o câncer de tireoide é o quinto em maior incidência no sexo feminino e o câncer de boca é o quinto em maior incidência no sexo masculino, sendo o de laringe, o oitavo em maior incidência nesse mesmo grupo (excluindo as neoplasias de pele não melanoma em ambos sexos). As neoplasias de boca e laringe estão entre as 10 com maior mortalidade no sexo masculino no Brasil. Se contarmos os tumores cutâneos não melanoma que são a grande maioria dos canceres, sabemos que a região da cabeça e pescoço, a qual tem alta taxa de foto exposição, corrobora para o grande número de casos. Logo, o tratamento do câncer na região cabeça e pescoço torna-se saúde pública e praticamente uma obrigação dos profissionais de saúde saber identifica-los.
O carcinoma epidermóide é o principal câncer que surge na boca. Inicia-se como uma ferida que não cicatriza, lembrando muitas vezes uma afta. Tem como principal fator de risco o tabagismo, seguidos pelo etilismo, má higiene oral, próteses dentárias mal ajustadas, imunossupressão e idade avançada. Infelizmente, esse câncer muitas vezes é de desconhecimento geral da população e até mesmo dos profissionais de saúde (médicos e dentistas), causando atraso no diagnóstico e gerando um tratamento mais agressivo com cirurgias mutilantes e radio-quimioterapia complementares.
Esse mesmo carcinoma, também é o principal responsável pelas neoplasias de laringe e orofaringe, tendo forte relação com o tabagismo associado, ou não, ao etilismo. O câncer de laringe manifesta-se com rouquidão progressiva e dificuldade de engolir. Por outro lado, o câncer de orofaringe (palato mole, amigdalas, úvula, base de língua e faringe) tem um outro importante fator de risco, o HPV. Pacientes mais jovens, não tabagistas e não elitistas são principalmente acometidos por essa doença, tendo predomínio no sexo masculino. Muitas vezes, os pacientes procuram ajuda apenas quando percebem uma íngua aumentada no pescoço (metástase para o pescoço). A vacinação do HPV deve ser feita tanto em meninas quanto em meninos, uma vez que o câncer de colo de útero (terceiro em maior incidência no sexo feminino) também é causado por esse vírus.
O câncer de tireoide muitas vezes é diagnosticado ao acaso – em exames complementares de check-up ou para outros órgãos, das quais se descobre nódulos tireoidianos. Felizmente, nem todo nódulo da tireoide é câncer, mas é necessária a avaliação do especialista para indicar a punção (“biópsia”) do nódulo suspeito. Os sintomas iniciais manifestam-se com uma nodulação na região anterior do pescoço. Pessoas com histórico de neoplasia maligna de tireoide na família devem estar em alerta a esse sintoma.
Devido a importância do tema, no dia 20 de abril de 2022, a lei n° 14.328 foi sancionada pelo presidente da república, instituindo o mês de julho como o Mês Nacional do Combate ao Câncer de Cabeça e Pescoço. Essa lei torna-se um marco, incentivando mais campanhas de prevenção e de combate a essa doença, educando não somente a população, como também os profissionais da área de saúde. Espera-se que a cada Julho Verde as taxas brasileiras de incidência e mortalidade dessas neoplasias diminuam com a conscientização e prevenção.
Claurio Roncuni — Cirurgião de Cabeça e Pescoço —- CREMERS 41432 —- RQE RS 36425